Marcello Antony em cena de Passione em que seu personagem sofre grave acidente (Fotos: Divulgação)
Para Silvio de Abreu, autor de Passione, a queda de audiência da novela das oito “é um movimento natural” da TV aberta como um todo. “Não sei porque só se preocupam com a novela”, reclama, lembrando que a produção que a Globo leva ao ar às 21h continua sendo o programa mais visto da TV brasileira.
Nesta entrevista exclusiva, concedida por e-mail, Abreu fala dos resultados das pesquisas feitas há três semanas com grupos de telespectadoras, para avaliar a aceitação da novela. E nega que Gerson (Marcello Antony) seja o pai de Fátima (Bianca Bin). Confira:
R7 - Segundo pesquisas feitas pela Globo, parte do público da novela das oito estranhou o que chamou de ritmo alucinado de Passione. Não é um contra-senso ter que puxar o freio numa época em que os seriados americanos arrastam parte do público, o mais jovem, para uma narrativa ainda mais frenética?
Silvio de Abreu - Não sei se é contra-senso ou não, só sei que a novela vai continuar como está. É claro que as observações do grupo [de discussões, que fez parte das pesquisas] foram importantes, mas Passione já está em uma outra fase de narrativa em que algumas histórias são privilegiadas por um período, sem que as outras percam o interesse.
R7 - O que de fato mudou em Passione por causa da audiência abaixo dos 40 pontos?
Abreu - Nada. Como já disse a novela já está mais concentrada desde o final do primeiro mês no ar, capítulo 24, e nem por isso perdeu o seu ritmo inicial. É só assistir e observar.
R7 - Quais tramas foram para o centro? Quais tramas vão ficar de molho por algum tempo?
Abreu - O molho nunca é por muito tempo. Todas as tramas estão sendo desenvolvidas ao mesmo tempo, umas ocuparão mais espaço do que as outras, por algum período, mas o revezamento será sempre constante.
O autor Silvio de Abreu
“Clara tem grande empatia com o público, porque é uma vilã com ampla justificativa. Foi explorada pela avó, cresceu num ambiente hostil, mas tem um pronunciado lado bom ao se preocupar com a irmã. Isso faz com que as pessoas vejam nela uma grande chance de redenção. Agora, se ela vai ficar boa ou não, eu não falo.”
R7 - O que o público pesquisado disse sobre a suspeita de Gerson (Marcello Antony) ser pedófilo ou homossexual?
Abreu - O público está muito curioso com relação ao que ele chama de “O segredo de Gerson”. Isso prova que a novela tem interessado, e muito. [As pessoas que participaram da pesquisa] Discutem a possibilidade de ele ser isso ou aquilo, mas quando a pesquisa foi feita já sabiam que ele não era nem pedófilo nem homossexual. Apostavam então que ele fosse estéril, mas como isso já foi dito no ar, depois da pesquisa, que ele também não é, agora devem estar pensando que ele é hacker, como eu já li em algum lugar…
R7 - O que as donas de casa pesquisadas preferem que Gerson seja?
Abreu - Não perguntamos sobre isso. Mesmo porque eu já sei o que ele é desde a sinopse e isso não vai mudar.
R7 - A repórter Laura Mattos, da Folha de S.Paulo, descobriu que o segredo de Gerson é a paternidade de Fátima (Bianca Bin) e que ele procura obsessivamente, na internet, imagens da filha. Você vai mudar a história?
Abreu - Não sei que sinopse Laura Mattos leu. A que eu escrevi e envie à Globo não fala isso. A minha resposta cheia de pontos de interrogação não era uma afirmação, era só uma brincadeira em cima da especulação que se criou em torno de Gerson. Não vou mudar nada da história que planejei e não posso ser responsável pelas especulações que fazem sobre os personagens e tramas da novela.
R7 - As pesquisas mostraram que as telespectadoras torcem para que você torne Clara (Mariana Ximenes) em uma pessoa boa. Por quê? Você vai atender à torcida?
Abreu - Clara tem uma grande empatia com o público, além do carisma e talento de Mariana Ximenes, porque é uma vilã com ampla justificativa. Ela foi explorada pela avó, cresceu num ambiente hostil, mas tem um pronunciado lado bom ao se preocupar com a irmã, não querendo que Kelly (Carol Macedo) sofra o mesmo que ela sofreu. Isso faz com que as pessoas vejam nela uma grande chance de redenção. Mas quem colocou essas atenuantes no seu caráter para que o público gostasse dela foi o autor, portanto tudo está correndo como o previsto. Agora, se ela vai ficar boa ou não, eu não falo.
R7 - O sr. acredita em pesquisas? Faz todas as mudanças que elas sugerem?
Abreu - As pesquisas são excelentes para saber se a novela está se comunicando bem com o seu público, se eles estão com alguma dificuldade de entendimento, ou se existe alguma rejeição forte com relação a algum tema ou personagem. A única dificuldade apontada em Passione está realacionada à velocidade da narrativa.
R7 - É mais difícil escrever novelas hoje do que, por exemplo, nos anos 1980 e 1990? Por quê?
Abreu - É a mesma coisa. Novela é um produto específico e muito trabalhoso.
R7 - Em 2006, para citar uma novela sua, Belíssima trafegava no trilhos dos 45 aos 50 pontos (e, muitas vezes, até mais de 50). Hoje, é difícil uma novela das oito se manter entre os 35 e os 40 pontos? O que aconteceu em apenas quatro anos?
Abreu - Não tenho a menor idéia. O que eu sei é que a novela das oito ou das 21h continua a ser o programa de maior audiência da televisão brasileira. Ou seja, esse é um movimento natural. Não sei porque só se preocupam com a novela.
R7 - Tem muita gente hoje assistindo à sua novela fora do horário em que ela vai ao ar ou em outra mídia, como a internet?
Abreu - O número de acessos diários no site de Passione já chega a um milhão de internautas. É muita gente interessada na novela e, não posso afirmar isso, mas imagino que muitios assistem aos capítulos no computador.
R7 – Você vai mesmo voltar a dirigir filmes depois de Passione? Qual será o projeto?
Abreu - Toda vez que penso em voltar a dirigir cinema me dá uma grande preguiça. Vamos ver quando acabar a novela.
R7 - Escrever novela não é muito mais trabalhoso do que dirigir um filme?
Abreu - É diferente, no momento prefiro escrever novela. Como já disse, quando acabar eu penso no assunto.
Fonte:Daniel Castro